Tijuca é um distrito do município de Cachoeiro de Itapemirim. Tem cerca de 600 habitantes, a maioria descendentes de italianos. A principal fonte de renda desse distrito é a agricultura cafeeira, seguida da extração de granito. Conta ainda com uma fonte de água mineral que, após muitos anos desativada, foi reinaugurada em 2004.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA FELINTO MARTINS (ou BAIMINAS)
FELINTO MARTINS (ou BAIMINAS)
E. F. Itapemirim (c.1915-1962)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
E. F. do Itapemirim - km 53 (1948) ES-3291
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
E. F. do Itapemirim - km 53 (1948) ES-3291
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: A E. F. Itapemirim foi construída entre 1910 e 1920, inicialmente entre a estação da Barra, no porto da Barra do Itapemirim e a Usina Paineiras, depois completada até a Praça João Pessoa, em Cachoeiro. A ferrovia derivava de um projeto mais antigo que deveria ligar o porto da Barra a Castelo e Alegre, mais ao norte. Os trechos entre Cachoeiro e Castelo e Coutinho e Rive foram construídos nos anos 1880. O primeiro se transformou na E. F. Caravelas, e parte dele (Coutinho-Castelo) mais tarde foi o ramal de Castelo da Leopoldina. A E. F. Itapemirim, uma das poucas na região a não cair nas mãos da Leopoldina, foi finalmente extinta em meados dos anos 1960, quando já se estendia até a praia de Marataízes, uma estação além da Barra.
A ESTAÇÃO: A estação de Felinto Martins ficava fora da linha principal, era necessário que se pegasse um pequeno desvio para chegar até ela. Era também chamada de Baiminas, nome do bairro em que estava. Já foi demolida. No local da mesma foi construída uma escola.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DA PRAÇA JOÃO PESSOA
PRAÇA JOÃO PESSOA
E. F. Itapemirim (c.1915-1962)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
E. F. do Itapemirim - km 55 (1948) ES-1864
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolida)
E. F. Itapemirim (c.1915-1962)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
E. F. do Itapemirim - km 55 (1948) ES-1864
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolida)
HISTORICO DA LINHA: A E. F. Itapemirim foi construída entre 1910 e 1920, inicialmente entre a estação da Barra, no porto da Barra do Itapemirim e a Usina Paineiras, depois completada até a Praça João Pessoa, em Cachoeiro. A ferrovia derivava de um projeto mais antigo que deveria ligar o porto da Barra a Castelo e Alegre, mais ao norte. Os trechos entre Cachoeiro e Castelo e Coutinho e Rive foram construídos nos anos 1880. O primeiro se transformou na E. F. Caravelas, e parte dele (Coutinho-Castelo) mais tarde foi o ramal de Castelo da Leopoldina. A E. F. Itapemirim, uma das poucas na região a não cair nas mãos da Leopoldina, foi finalmente extinta em meados dos anos 1960, quando já se estendia até a praia de Marataízes, uma estação além da Barra.
A ESTAÇÃO: A estação da Praça João Pessoa era o ponto de partida para a E. F. Itapemirim, que chegava até a praia de Marataízes. Dali havia uma ligação por trilhos com a estação da Leopoldina de Cachoeiro de Itapemirim. "A estação da Itapemirim ficava a uns 200 metros da estação da Leopoldina. Enquanto essa perpassava a cidade de uma ponta a outra, a de Itapemirim chegava por outra via e não chegava a alcançá-la, embora ficassem no mesmo plano visual. Ao chegar próximo das estações, os trilhos das duas corriam paralelo, com um desnível de 1m - o da Itapemirim era o mais alto" (América Moraes Moysés, 11/2005). "Existia uma conexão de trilhos entre a Leopoldina e a Itapemirim na altura da Praça Pedro Cuevas Junior, de tal maneira que as maquinas pequenas que ele chama de maquinas pequenas Grupo 1 . numeros 110, 111, 112 e 113 da Leopoldina, entravam nos trilhos da Itapemirim e manobragam as cargas de abacaxi eram facilmente passadas de um para outro vagão" (Gladstone Rubim, 2006). Com a desativação da ferrovia, na primeira metade dos anos 1960, a estação foi fechada e posteriormente demolida. A própria praça teve o seu nome alterado, e se chama hoje Praça Pedro Cuevas Junior.
ESTRADA DE FERRO ITAPEMIRIM
E. F. Itapemirim (c.1915-1962)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
E. F. do Itapemirim - km 55 (1948) ES-1864
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolida)
E. F. do Itapemirim - km 55 (1948) ES-1864
Inauguração: 1915
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolida)
HISTORICO DA LINHA: A E. F. Itapemirim foi construída entre 1910 e 1920, inicialmente entre a estação da Barra, no porto da Barra do Itapemirim e a Usina Paineiras, depois completada até a Praça João Pessoa, em Cachoeiro. A ferrovia derivava de um projeto mais antigo que deveria ligar o porto da Barra a Castelo e Alegre, mais ao norte. Os trechos entre Cachoeiro e Castelo e Coutinho e Rive foram construídos nos anos 1880. O primeiro se transformou na E. F. Caravelas, e parte dele (Coutinho-Castelo) mais tarde foi o ramal de Castelo da Leopoldina. A E. F. Itapemirim, uma das poucas na região a não cair nas mãos da Leopoldina, foi finalmente extinta em meados dos anos 1960, quando já se estendia até a praia de Marataízes, uma estação além da Barra.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PACOTUBA (antiga BANANAL)
PACOTUBA (antiga BANANAL)
E. F. Leopoldina (1914-1972)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 505,069 (1960) ES-1713
Inauguração: 15.06.1914
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 505,069 (1960) ES-1713
Inauguração: 15.06.1914
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: O Ramal Sul do Espírito Santo, assim denominado pela Leopoldina teve sua origem na E. F. Sul do Espírito Santo, que tinha uma linha construída na região de Vitória e pertencia ao Governo do Estado do Espírito Santo, e na E. F. Caravelas, ambas adquiridas pela Leopoldina em 1908. A Caravelas partia de Vitória para Castelo, de um lado, e para Rive, do outro, bifurcando na estação de Matosinhos (Coutinho). Estes trechos estavam prontos desde 1887. Para chegar a Minas Gerais, na linha do Manhuaçu, como rezava o contrato, a Leopoldina levou cinco anos, abrindo o trecho Rive-Alegre em 1912 e até Espera Feliz, ponto final, em 1913. No final dos anos 60, o trecho Cachoeiro-Guaçuí foi suspenso para passageiros e finalmente erradicado em 26/10/1972. O outro trecho, Espera Feliz-Guaçuí, transportou passageiros até a sua erradicação, em 05/11/1971. Sobram ainda trilhos desde Cachoeiro até próximo à estação de Coutinho, para transportar mármore e granito das diversas serrarias dessas pedras que existem na região.
A ESTAÇÃO: A estação de Pacotuba teria sido aberta originalmente com o nome de Bananal, em 1914. Porém, a linha já passava por ali desde 1887, tempos ainda da Lloyd. Estaria a data correta? Não encontrei, no entanto, qualquer evidência de que pudesse existir uma estação ali antes de 1914. Trens de passageiros circularam por Pacotuba até 1967. Foi derrubada, e, no meio de uma fazenda de gado, fora do vilarejo, na área rural de Cachoeiro do Itapemirim, ainda se encontram restos de sua plataforma e fundações.
A ESTAÇÃO: A estação de Pacotuba teria sido aberta originalmente com o nome de Bananal, em 1914. Porém, a linha já passava por ali desde 1887, tempos ainda da Lloyd. Estaria a data correta? Não encontrei, no entanto, qualquer evidência de que pudesse existir uma estação ali antes de 1914. Trens de passageiros circularam por Pacotuba até 1967. Foi derrubada, e, no meio de uma fazenda de gado, fora do vilarejo, na área rural de Cachoeiro do Itapemirim, ainda se encontram restos de sua plataforma e fundações.
(Fonte: Marcos A. Farias, 01/2006)
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE SÃO JOÃO DA MATA
SÃO JOÃO DA MATA
E. F. Leopoldina (n/d-c.1967)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 503,053 (1960) ES-3431
Inauguração: n/d
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolido)
Ramal Sul do Espírito Santo - km 503,053 (1960) ES-3431
Inauguração: n/d
Uso atual: demolida
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d (já demolido)
HISTORICO DA LINHA: O Ramal Sul do Espírito Santo, assim denominado pela Leopoldina teve sua origem na E. F. Sul do Espírito Santo, que tinha uma linha construída na região de Vitória e pertencia ao Governo do Estado do Espírito Santo, e na E. F. Caravelas, ambas adquiridas pela Leopoldina em 1908. A Caravelas partia de Vitória para Castelo, de um lado, e para Rive, do outro, bifurcando na estação de Matosinhos (Coutinho). Estes trechos estavam prontos desde 1887. Para chegar a Minas Gerais, na linha do Manhuaçu, como rezava o contrato, a Leopoldina levou cinco anos, abrindo o trecho Rive-Alegre em 1912 e até Espera Feliz, ponto final, em 1913. No final dos anos 60, o trecho Cachoeiro-Guaçuí foi suspenso para passageiros e finalmente erradicado em 26/10/1972. O outro trecho, Espera Feliz-Guaçuí, transportou passageiros até a sua erradicação, em 05/11/1971. Sobram ainda trilhos desde Cachoeiro até próximo à estação de Coutinho, para transportar mármore e granito das diversas serrarias dessas pedras que existem na região.
A ESTAÇÃO: A parada de São João da Mata não tem data de inauguração conhecida. Segundo informação da proprietária da fazenda, a parada era de madeira e tinha escrito em letras também de madeira p seu nome. Chegou a ser reformada, mas, comida por cupins, caiu e foi desmontada.
(Fontes: Marcos A. Farias; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960)
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CONDURU
CONDURU
Cia. Lloyd Brasileiro (1887-1898)
Espirito Santo and Caravellas Ry. Co. Lmtd. (1898-1907)
E. F. Leopoldina (1907-1963)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal de Castelo - km 21,100 (1920) ES-1722
Inauguração: 15.09.1887
Uso atual: correios
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
Ramal de Castelo - km 21,100 (1920) ES-1722
Inauguração: 15.09.1887
Uso atual: correios
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Castelo tinha pouco mais de 21 km e saía da estação de Matosinhos (Coutinho), na linha Cachoeiro do Itapemirim-Alegre, mais tarde chamada de Ramal Sul do Espírito Santo. foi aberto ao público em 1887 pela empresa que administrava a estrada na época, a Cia. Lloyd Brasileiro. Em 1898 a ferrovia foi adquirida pela Espirito Santo and Caravellas Railway Company Limited, e, em 1907, foi adquirida pela Leopoldina. O ramal foi fechado em 06.12.1963.
A ESTAÇÃO: A estação de Conduru e o ramal, ligando a estação de Matosinhos (Coutinho) a Castelo, tiveram a construção iniciada pela E. F. de Itapemirim, em 1886. Logo em seguida, passou às mãos da Cia. de Navegação e Estrada de Ferro Espírito Santo e Caravellas, que a repassou à Cia. Lloyd Brasileiro. Em 1898, foi vendida a uma empresa inglesa, a Espirito Santo and Caravellas Railway Company Limited, para finalmente ser vendida à Leopoldina, em 1907. O ramal funcionou pelo menos até 1962; o guia Levi de setembro deste ano ainda acusa trens de passageiros no trecho. Era uma viagem diária, de ida e de volta, em trens que faziam o trecho Cachoeiro-Coutinho-Castelo em pouco mais de duas horas. A linha foi oficialmente suprimida em 06/12/1963. A estação foi reconstruída, mas de forma descaracterizada - depois de anos em ruínas e sem telhado. Hoje (2006) é uma estação rodoviária e agência de correios. "Adorei ver a estação de Conduru, que eu pensava nunca mais poder (apesar de totalmente descaracterizada) ver" (Celeste Bottrel, 03/2006).
A ESTAÇÃO: A estação de Conduru e o ramal, ligando a estação de Matosinhos (Coutinho) a Castelo, tiveram a construção iniciada pela E. F. de Itapemirim, em 1886. Logo em seguida, passou às mãos da Cia. de Navegação e Estrada de Ferro Espírito Santo e Caravellas, que a repassou à Cia. Lloyd Brasileiro. Em 1898, foi vendida a uma empresa inglesa, a Espirito Santo and Caravellas Railway Company Limited, para finalmente ser vendida à Leopoldina, em 1907. O ramal funcionou pelo menos até 1962; o guia Levi de setembro deste ano ainda acusa trens de passageiros no trecho. Era uma viagem diária, de ida e de volta, em trens que faziam o trecho Cachoeiro-Coutinho-Castelo em pouco mais de duas horas. A linha foi oficialmente suprimida em 06/12/1963. A estação foi reconstruída, mas de forma descaracterizada - depois de anos em ruínas e sem telhado. Hoje (2006) é uma estação rodoviária e agência de correios. "Adorei ver a estação de Conduru, que eu pensava nunca mais poder (apesar de totalmente descaracterizada) ver" (Celeste Bottrel, 03/2006).
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE COBIÇA
COBIÇA
E. F. Leopoldina (n/d-1975)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Linha do Litoral - km 487,931 (1960) ES-3399
Linha do Litoral - km 487,931 (1960) ES-3399
Inauguração: n/d
Uso atual: abandonada
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
Uso atual: abandonada
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: O que mais tarde foi chamada "linha do litoral" foi construída por diversas companhias, em épocas diferentes, empresas que acabaram sendo incorporadas pela Leopoldina até a primeira década do século XX. O primeiro trecho, Niterói-Rio Bonito, foi entregue entre 1874 e 1880 pela Cia. Ferro-Carril Niteroiense, constituída em 1871, e depois absorvida pela Cia. E. F. Macaé a Campos. Em 1887, a Leopoldina comprou o trecho. A Macaé-Campos, por sua vez, havia construído e entregue o trecho de Macaé a Campos entre 1874 e 1875. O trecho seguinte, Campos-Cachoeiro do Itapemirim,foi construído pela E. F. Carangola em 1877 e 1878; em 1890 essa empresa foi comprada pela E. F. Barão de Araruama, que no mesmo ano foi vendida à Leopoldina. O trecho até Vitória foi construído em parte pela E. F. Sul do Espírito Santo e vendido à Leopoldina em 1907. Em 1907, a Leopoldina construiu uma ponte sobre o rio Paraíba em Campos, unindo os dois trechos ao norte e ao sul do rio. A linha funciona até hoje para cargueiros e é operada pela FCA desde 1996. No início dos anos 80 deixaram de circular os trens de passageiros que uniam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória.
A ESTAÇÃO: A estação de Cobiça não tem data de inauguração conhecida. Também foi chamada de Cobiça da Leopoldina. Está (01/2006) abandonada, com tanto mato em volta que até fotografias tornam-se difíceis. O seu único desvio está sendo retirado. A partir de Cobiça se inicia uma subida de 700 m de altitude por 50 km de ferrovia até Ipê-Açu, algumas estações mais à frente e ponto mais alto daquele trecho.
(Fonte: Marcos Farias, 01/2006; Guia Geral - 1960)
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE MORRO GRANDE
MORRO GRANDE
E. F. Leopoldina (n/d-1975)
E. F. Leopoldina (n/d-1975)
RFFSA (1975-1996)
FCA (1996-2007)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 486,843 (1960) ES-0561
Inauguração: n/d
Uso atual: estação e depósito da FCA
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
Ramal Sul do Espírito Santo - km 486,843 (1960) ES-0561
Inauguração: n/d
Uso atual: estação e depósito da FCA
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: O Ramal Sul do Espírito Santo, assim denominado pela Leopoldina teve sua origem na E. F. Sul do Espírito Santo, que tinha uma linha construída na região de Vitória e pertencia ao Governo do Estado do Espírito Santo, e na E. F. Caravelas, ambas adquiridas pela Leopoldina em 1908. A Caravelas partia de Vitória para Castelo, de um lado, e para Rive, do outro, bifurcando na estação de Matosinhos (Coutinho). Estes trechos estavam prontos desde 1887. Para chegar a Minas Gerais, na linha do Manhuaçu, como rezava o contrato, a Leopoldina levou cinco anos, abrindo o trecho Rive-Alegre em 1912 e até Espera Feliz, ponto final, em 1913. No final dos anos 60, o trecho Cachoeiro-Guaçuí foi suspenso para passageiros e finalmente erradicado em 26/10/1972. O outro trecho, Espera Feliz-Guaçuí, transportou passageiros até a sua erradicação, em 05/11/1971. Sobram ainda trilhos desde Cachoeiro até próximo à estação de Coutinho, para transportar mármore e granito das diversas serrarias dessas pedras que existem na região.
A ESTAÇÃO: A estação de Morro Grande era a primeira a partir de Cachoeiro do Itapemirim, no ramal Sul do Espírito Santo. Apesar da erradicação do ramal no começo dos anos 1970, os trilhos foram mantidos entre Cachoeiro e próximo à estação de Coutinho, para o transporte de mármore e granito das diversas serrarias dessa pedras que existem ao longo dos trilhos. Em 2005, o trecho inicial do ramal ainda está operante. Aliás, a estação de Morro Grande hoje tem uma importância muito maior do que no passado; foi incorporada em 1995 à variante que fez a ferrovia passar por fora da cidade de Cachoeiro do Itapemirim e é hoje o seu pátio principal ferroviário, mantendo o seu nome original. A estação foi desativada em 2007, não serve mais à FCA.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM
E. F. Leopoldina (1903-1975)
RFFSA (1975-1995)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Linha do Litoral - km 479,462 (1960) ES-0851
Inauguração: 1903
Linha do Litoral - km 479,462 (1960) ES-0851
Inauguração: 1903
Uso atual: Secretaria da Cultura do município
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: 1903.
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: 1903.
HISTORICO DA LINHA: O que mais tarde foi chamada "linha do litoral" foi construída por diversas companhias, em épocas diferentes, empresas que acabaram sendo incorporadas pela Leopoldina até a primeira década do século XX. O primeiro trecho, Niterói-Rio Bonito, foi entregue entre 1874 e 1880 pela Cia. Ferro-Carril Niteroiense, constituída em 1871, e depois absorvida pela Cia. E. F. Macaé a Campos. Em 1887, a Leopoldina comprou o trecho. A Macaé-Campos, por sua vez, havia construído e entregue o trecho de Macaé a Campos entre 1874 e 1875. O trecho seguinte, Campos-Cachoeiro do Itapemirim,foi construído pela E. F. Carangola em 1877 e 1878; em 1890 essa empresa foi comprada pela E. F. Barão de Araruama, que no mesmo ano foi vendida à Leopoldina. O trecho até Vitória foi construído em parte pela E. F. Sul do Espírito Santo e vendido à Leopoldina em 1907. Em 1907, a Leopoldina construiu uma ponte sobre o rio Paraíba em Campos, unindo os dois trechos ao norte e ao sul do rio. A linha funciona até hoje para cargueiros e é operada pela FCA desde 1996. No início dos anos 80 deixaram de circular os trens de passageiros que uniam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória.
A ESTAÇÃO: No final dos anos 1880, a vila de Cachoeiro do Itapemirim, "segundo os dados estatísticos fornecidos por diversos, poderá dar (para a ferrovia) em café, vindo dos arredores, da parte norte da vila e das colônias vizinhas, cerca de 150 a 180.000 sacos de 4 arrobas". A estação de Cachoeiro do Itapemirim parece ter sido inaugurada ainda pela E. F. Sul do Espírito Santo, em 1903, segundo o Guia Geral de 1960. Era também chamada somente de Itapemirim. Mais tarde, também se chamou Muniz Freire e finalmente tomou o nome da cidade: Cachoeiro do Itapemirim. Ela fica localizada praticamente às margens do rio Itapemirim, mas a uma distância que permitiu a construção de alguns prédios entre ela e as águas do rio. Nas fotos mais antigas - que infelizmente não disponho de cópias para colocar no site - ela aparece tanto com um nome quanto com outro, e não tinha o segundo andar que aparece nas fotos abaixo, que são mais recentes: as fotos mais antigas mostram que havia apenas o andar térreo e que o prédio era o mesmo, apenas tendo sofrido uma reforma com o acréscimo do andar - uma torre central, na verdade - mais tarde. Existia, próximo à estação da Leopoldina, uma outra estação, numa praça de nome João Pessoa - na verdade, era também o nome da estação; hoje, a praça tem outro nome (Praça Pedro Cuevas Junior) e a estação não mais existe - que servia de início à Estrada de Ferro Itapemirim, que ia para o litoral, nessa cidade (Itapemirim). As linhas não se juntavam, mas havia como passar carga de uma para a outra. "A estação da Itapemirim ficava a uns 200 metros da estação da Leopoldina. Enquanto essa perpassava a cidade de uma ponta a outra, a de Itapemirim chegava por outra via e não chegava a alcançá-la, embora ficassem no mesmo plano visual. Ao chegar próximo das estações, os trilhos das duas corriam paralelo, com um desnível de 1m - o da Itapemirim era o mais alto. A ferrovia para Itapemirim teve importância econômica para aquele município, pois escoava a produção de abacaxi que era depositada em grandes pilhas no pátio da estação da Leopoldina. A história dos abacaxis ficou muito forte na minha lembrança: eram pilhas enormes e os abacaxis, muito maduros, exalavam um forte cheiro que impregnava toda aquela área em volta. Nós morávamos exatamente em frente à estação" (América M. Moysés, 11/2005). Em 1995, a linha foi retirada do centro da cidade, por onde passava por uma rua dividindo o trânsito com os carros, e foi transferida para fora da área urbana. Ficou ali a estação, como lembrança do passado. "A estação da antiga Leopoldina no centro da cidade foi totalmente reformada pela prefeitura e acho que vai ser um centro cultural ou talvez algum departamento dela, os homens estão resolvendo." (Gladstone Rubim, 03/2005). Realmente, no final de 2005, estava restaurada e abrigando a Secretaria Municipal da Cultura.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE COUTINHO
COUTINHO (antiga MATOSINHOS)
Cia. Lloyd Brasileiro (1887-1898)
Espirito Santo and Caravellas Ry. Co. Lmtd. (1898-1907)
E. F. Leopoldina (1907-c.1967)
Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 495,000 (1960) ES-1712
Inauguração: 16.09.1887
Uso atual: moradia
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
Ramal Sul do Espírito Santo - km 495,000 (1960) ES-1712
Inauguração: 16.09.1887
Uso atual: moradia
Sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
HISTORICO DA LINHA: O Ramal Sul do Espírito Santo, assim denominado pela Leopoldina teve sua origem na E. F. Sul do Espírito Santo, que tinha uma linha construída na região de Vitória e pertencia ao Governo do Estado do Espírito Santo, e na E. F. Caravelas, ambas adquiridas pela Leopoldina em 1908. A Caravelas partia de Vitória para Castelo, de um lado, e para Rive, do outro, bifurcando na estação de Matosinhos (Coutinho). Estes trechos estavam prontos desde 1887. Para chegar a Minas Gerais, na linha do Manhuaçu, como rezava o contrato, a Leopoldina levou cinco anos, abrindo o trecho Rive-Alegre em 1912 e até Espera Feliz, ponto final, em 1913. No final dos anos 60, o trecho Cachoeiro-Guaçuí foi suspenso para passageiros e finalmente erradicado em 26/10/1972. O outro trecho, Espera Feliz-Guaçuí, transportou passageiros até a sua erradicação, em 05/11/1971. Sobram ainda trilhos desde Cachoeiro até próximo à estação de Coutinho, para transportar mármore e granito das diversas serrarias dessas pedras que existem na região.
A ESTAÇÃO: A estação de Matosinhos, homenagem a um dos donos originais da ferrovia, foi aberta em 1887, sendo ela a bifurcação da linha que, vindo de Cachoeiro do Itapemirim, seguia ao norte para Castelo (ramal do Castelo) e para noroeste (ramal de Alegre). (Nota: O Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil de 1960 cita a inauguração da estação em 28/04/1908, o que não faz sentido). "No dia seguinte (16 de setembro de 1887), às dez da manhã, o trem inaugural, apinhado de gente, partia da estação do Cachoeiro e fazia o percurso, até Matosinhos, em uma hora e cinco minutos. Retardando a parada por vinte minutos, para dar tempo aos discursos e vivas, partiu, rumo à estação do Alegre. Explicando melhor, a vila do Alegre se distanciava légua e meia do ponto terminal da linha férrea, sito em terras do fazendeiro Vicente Ferreira de Paiva, banhadas pelo córrego Pombal, nome que tomou a estação, mais tarde mudado para Reeve [Rive]. Ali, o velho e rico fazendeiro, seu filho, genro e outros parentes ofereceram um lanche à comitiva" (Levy Rocha, Crônicas de Cachoeiro). A compra das linhas pela Leopoldina em 1908 acabou por prolongar a linha de Alegre até Espera Feliz, na linha do Manhuaçu, em Minas Gerais, onde chegou cinco anos depois. Nos anos 1940, a estação teve o nome alterado para Coutinho. Trens de passageiros circularam por Coutinho até o final dos anos 1960, mas, antes disso, em 1963, o ramal de Castelo já havia sido fechado. O ramal saía de um pouco antes da estação de Coutinho, cruzando um rio que existe em frente e que não é visto em nenhuma das fotografias abaixo. Da ponte somente restam os pilares. Da vila sobram ainda uma casa de turma e a caixa d'água. A estação hoje (2008) serve como moradia, onde vive o Sr. Silvio, ferroviário aposentado.
(Fontes: Marcos Farias, 11/2005; Levy Rocha, Crônicas de Cachoeiro; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local, 2008)
Histórias de Rubem Braga
“...Mergulho nesse mundo misterioso e doce e passeio nele como um rei arbitrário que desconhece o tempo....
...são dezenas, centenas de lembranças graves e pueris que desfilam sem ordem, como se eu sonhasse.
Entretanto uma parte desse mundo perdido ainda existe e de modo tão natural e sereno que parece eterno; agora mesmo chupei um caju de 25 anos atrás...
Rubem Braga “Em Cachoeiro”- 1947
“O raro dom de tornar qualquer assunto interessante vem desde os tempos de menino”, afirma a irmã caçula de Rubem Braga– única memória viva dos 13 filhos de seu Francisco e D. Rachel Braga. Entre fotografias antigas, livros e recortes de jornal , D. Anna Graça Braga de Abreu não tem dúvidas de que a sensibilidade e o estilo poético contido na crônica do irmão está intimamente relacionado com a vivência de uma infância alegre, cercada pela natureza exuberante de sua terra natal.
D. Gracinha, como é carinhosamente chamada, fala com orgulho de toda a família, mostrando o quadro - pintado por ela- que retrata a “Casa dos Braga”(hoje restaurada pela prefeitura local, funciona como Centro Cultural e Biblioteca Municipal).
Nascido e criado neste casarão de 400 m2, cercado de árvores frutíferas no jardim, Rubem Braga teve uma infância pontuada pelos prazeres comuns de todos os meninos criados com liberdade nas cidades interioranas. Jogar futebol era a diversão favorita. As pescarias no córrego que atravessava a cidade, caçar passarinhos e subir nas árvores para arrancar e comer as frutas também faziam parte das atividades que mais lhe davam prazer. Com a voz embargada pelas lembranças, D. Gracinha, ao lado do filho Afonso, gosta de folhear os livros do irmão famoso. As melhores estórias da época vivida em Cachoeiro foram retratadas em crônicas. Aos poucos, a dor da saudade de um passado que não volta mais é substituída pela serenidade imortalizada através das estórias registradas por Braga. A melancolia é logo substituída pela doce alegria de quem se permite deixar levar pelo “túnel do tempo”...A lágrima que insistia em escorrer é vencida pela força deste “universo literário” tão presente. O “passado”,principalmente para a família Braga, existe de modo especial: foi “eternizado” em sua obra . A voz da irmã retoma o tom firme e descontraído. Ela chega a rir ao falar sobre algumas estórias que o irmão retratou com “clareza e precisão de detalhes”: “O Rubem só trocava o nome dos “personagens”, mas tudo o que ele narra nas crônicas aconteceu de verdade”.
Entre as (muitas) crônicas , a irmã não “elege” nenhuma como”favorita”:“Gosto de tudo o que ele escreveu!”... Mas não deixa de citar algumas. Em “Lembrança de Zig”, por exemplo, Rubem fala do cachorro dela, um vira-lata conhecido por todos na época como “Zig Braga”. O irmão se divertia muito com o cachorro, que costumava “atacar” todo mundo que usava uniforme. “Tínhamos pena do carteiro”, diverte-se ela.
O saudosismo e as lembranças de um passado feliz, aos poucos, vem vindo à tona na memória de D. Gracinha . Com firmeza, ela conta a implicância que o irmão e os amigos tinham com seis irmãs que moravam na casa vizinha. Rubem se referia a elas como “nossas inimigas”. Todas as vezes que eles jogavam futebol na rua, as irmãs “inimigas” implicavam com o barulho.Certa vez, chegaram a furar-lhes a bola. Rubem não era chegado a brigas. Não gostava de causar aborrecimentos aos pais. Como forma de “extravasar” seus sentimentos, sua única –e melhor- “arma”era a caneta e o papel: esta rixa, por exemplo, foi ‘desabafada” através da crônica “Praga de menino” .
O “pequeno” Braga também adorava subir em árvores. A preferida era o cajueiro que ficava no alto do morro, atrás da casa dos pais, que também mereceu um texto especial, “O Cajueiro”.
O sobrinho Afonso, que morou um período com o tio no Rio, gosta de relembrar outra estória que deu origem à crônica “A moça rica”. A moça em questão era uma cachoeirense que estudava no Rio e costumava passar as férias em sua cidade natal. Tinha hábitos considerados “avançados” para a época . “Ela era mais velha e gostava de ir pescar com os meninos. Numa dessas pescarias, a moça tentou uma “aproximação mais íntima” com o Rubem. Ele era muito ingênuo naquela ocasião e acabou ficando “assustado” com o “assédio”, conta o sobrinho, com um sorriso maroto de quem conheceu o tio já adulto .”Apesar de reservado e discreto, Tio Rubem era muito “mulherengo”, revela rindo.
Rubem Braga era introspectivo. Apesar de sempre bem-humorado, a timidez o fazia passar por antipático entre muitos que não o conheciam. Sempre gostou mais de observar do que falar. Expressava-se com mais desenvoltura e intimidade “escondendo-se” atrás de seus textos. Começou cedo a usar o “papel”para externar toda a percepção do mundo que observava à sua volta.
“Nossa casa era bem bonita, com varanda, caramanchão e o jardim grande ladeando a rua. Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda...”
Rubem Braga na crônica “ Os trovões de antigamente”.
O passado interiorano de Rubem Braga foi relatado em sua obra de forma sempre poética e nostálgica, reforçando a constatação inicial de D. Gracinha a respeito da importância desta época na vida do irmão - não só refletida em seu estilo, como também marcante na formação da personalidade simples e humanitária do autor.
Descendente de uma família de intelectuais e políticos – seu pai foi o primeiro prefeito de Cachoeiro de Itapemirim- os Braga sempre cultivaram a união familiar e a importância do enriquecimento cultural. Apesar da tradicional erudição, mantinham uma postura simples e discreta.
“Meu irmão gostava muito de conviver com a família”. D. Gracinha cita também o talento do primogênito, o poeta Newton Braga. “ O Rubem sempre gostou de ler o que ele escrevia.” Os passeios de carro com a irmã (e madrinha) Carmosina –a primeira mulher que dirigiu um carro em Cachoeiro- eram motivo de orgulho e prazer. Braga adorava passear pelas ruas da cidade e não se cansava de admirar a mesma paisagem.
A fama de “turrão” foi confirmada pela irmã:“O Rubem sempre teve uma personalidade muito forte. Quando colocava alguma idéia na cabeça, ninguém conseguia tirar”. Relembrando os tempos de colégio, D. Gracinha revela que Rubem não gostava de estudar. Tinha especial “horror” à matemática. Na época do ginásio, com dificuldades na matéria, foi chamado de “burro” pelo severo professor. Sentindo-se revoltado e humilhado, Rubem decidiu que nunca mais voltaria àquele colégio. Contando com a compreensão e apoio do pai, mudou-se de Cachoeiro aos 15 anos. Foi para a casa de parentes, em Niterói, onde concluiu o ginásio.Nesta época, passava todas as férias e feriados junto à família, na casa de praia que mantinham em Marataízes, no balneário capixaba . Anos mais tarde, concluiu a faculdade de Direito, atividade nunca exercida. O jornalismo já fazia parte de sua vida diária, servindo, de modo inconsciente, como um “elo de ligação” com suas raízes.
Segundo trecho de uma carta de Carlos Drummond de Andrade, escrita em 1963, “a clareza de Rubem Braga diante da vida em si é impressionante.O dom de sentir, valorizar e distribuir a natureza como um bem de que andamos todos cada vez mais precisados – eis a lição de Braga : lição de insaciável liberdade e gosto de viver...”
Considerado por muitos como “herdeiro” do estilo humilde de Manuel Bandeira, Braga costumava tirar poesia das “insignificâncias” do cotidiano. Ao falar dos acontecimentos de sua infância em Cachoeiro, podemos perceber com nitidez a melancolia lírica de quem não consegue restaurar os valores éticos que parecem ter ficado perdidos em “algum lugar do passado”....
“....É extraordinário que eu esteja aqui, nesta casa, nesta janela, e ao mesmo tempo é completamente natural e parece que toda a minha vida fora daqui foi apenas uma excursão confusa e longa; moro aqui. Na verdade onde posso morar senão em minha casa?...
Rubem Braga na crônica “ Em Cachoeiro”-fevereiro 1947
Com o dom da escrita percebido desde cedo pelos irmãos mais velhos, Rubem Braga passou a ter suas crônicas publicadas regularmente no jornal da família - “Correio do Sul”- desde os 15 anos. A partir daí só parou de escrever aos 77 anos, quando morreu de câncer, no Rio, no dia 17 de dezembro de 1990, deixando um único filho, Roberto, e 4 netos.
Caso único de autor consagrado que entrou para a história literária brasileira exclusivamente através de suas crônicas, o capixaba Rubem Braga não conferiu apenas nobreza a este gênero literário. Nascido no dia 12 de janeiro de 1913 em Cachoeiro de Itapemirim, o escritor é motivo de orgulho ímpar na cidade. Numa espécie de homenagem ao “filho ilustre”, na logomarca do município consta uma pena de caneta- tinteiro, simbolizando a cultura literária local – que tem na figura de Rubem Braga seu expoente máximo.
O dia 29 de junho tem um significado especial para a família Braga (e para os cachoeirenses em geral). Como primeiro prefeito da cidade o patriarca, Francisco Braga, tornou São Pedro o santo Padroeiro de Cachoeiro de Itapemirim. O dia de São Pedro passou a ser também o dia da Cidade. Trata-se, portanto, de um feriado municipal, onde os festejos cívicos e religiosos vêm se encarregando de eternizar o inestimável legado cultural de Rubem Braga na memória de seus orgulhosos conterrâneos...
“Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe diser em voz baixa:“Eu sou lá de Cachoeiro...”
(Rubem Braga)
...são dezenas, centenas de lembranças graves e pueris que desfilam sem ordem, como se eu sonhasse.
Entretanto uma parte desse mundo perdido ainda existe e de modo tão natural e sereno que parece eterno; agora mesmo chupei um caju de 25 anos atrás...
Rubem Braga “Em Cachoeiro”- 1947
“O raro dom de tornar qualquer assunto interessante vem desde os tempos de menino”, afirma a irmã caçula de Rubem Braga– única memória viva dos 13 filhos de seu Francisco e D. Rachel Braga. Entre fotografias antigas, livros e recortes de jornal , D. Anna Graça Braga de Abreu não tem dúvidas de que a sensibilidade e o estilo poético contido na crônica do irmão está intimamente relacionado com a vivência de uma infância alegre, cercada pela natureza exuberante de sua terra natal.
D. Gracinha, como é carinhosamente chamada, fala com orgulho de toda a família, mostrando o quadro - pintado por ela- que retrata a “Casa dos Braga”(hoje restaurada pela prefeitura local, funciona como Centro Cultural e Biblioteca Municipal).
Nascido e criado neste casarão de 400 m2, cercado de árvores frutíferas no jardim, Rubem Braga teve uma infância pontuada pelos prazeres comuns de todos os meninos criados com liberdade nas cidades interioranas. Jogar futebol era a diversão favorita. As pescarias no córrego que atravessava a cidade, caçar passarinhos e subir nas árvores para arrancar e comer as frutas também faziam parte das atividades que mais lhe davam prazer. Com a voz embargada pelas lembranças, D. Gracinha, ao lado do filho Afonso, gosta de folhear os livros do irmão famoso. As melhores estórias da época vivida em Cachoeiro foram retratadas em crônicas. Aos poucos, a dor da saudade de um passado que não volta mais é substituída pela serenidade imortalizada através das estórias registradas por Braga. A melancolia é logo substituída pela doce alegria de quem se permite deixar levar pelo “túnel do tempo”...A lágrima que insistia em escorrer é vencida pela força deste “universo literário” tão presente. O “passado”,principalmente para a família Braga, existe de modo especial: foi “eternizado” em sua obra . A voz da irmã retoma o tom firme e descontraído. Ela chega a rir ao falar sobre algumas estórias que o irmão retratou com “clareza e precisão de detalhes”: “O Rubem só trocava o nome dos “personagens”, mas tudo o que ele narra nas crônicas aconteceu de verdade”.
Entre as (muitas) crônicas , a irmã não “elege” nenhuma como”favorita”:“Gosto de tudo o que ele escreveu!”... Mas não deixa de citar algumas. Em “Lembrança de Zig”, por exemplo, Rubem fala do cachorro dela, um vira-lata conhecido por todos na época como “Zig Braga”. O irmão se divertia muito com o cachorro, que costumava “atacar” todo mundo que usava uniforme. “Tínhamos pena do carteiro”, diverte-se ela.
O saudosismo e as lembranças de um passado feliz, aos poucos, vem vindo à tona na memória de D. Gracinha . Com firmeza, ela conta a implicância que o irmão e os amigos tinham com seis irmãs que moravam na casa vizinha. Rubem se referia a elas como “nossas inimigas”. Todas as vezes que eles jogavam futebol na rua, as irmãs “inimigas” implicavam com o barulho.Certa vez, chegaram a furar-lhes a bola. Rubem não era chegado a brigas. Não gostava de causar aborrecimentos aos pais. Como forma de “extravasar” seus sentimentos, sua única –e melhor- “arma”era a caneta e o papel: esta rixa, por exemplo, foi ‘desabafada” através da crônica “Praga de menino” .
O “pequeno” Braga também adorava subir em árvores. A preferida era o cajueiro que ficava no alto do morro, atrás da casa dos pais, que também mereceu um texto especial, “O Cajueiro”.
O sobrinho Afonso, que morou um período com o tio no Rio, gosta de relembrar outra estória que deu origem à crônica “A moça rica”. A moça em questão era uma cachoeirense que estudava no Rio e costumava passar as férias em sua cidade natal. Tinha hábitos considerados “avançados” para a época . “Ela era mais velha e gostava de ir pescar com os meninos. Numa dessas pescarias, a moça tentou uma “aproximação mais íntima” com o Rubem. Ele era muito ingênuo naquela ocasião e acabou ficando “assustado” com o “assédio”, conta o sobrinho, com um sorriso maroto de quem conheceu o tio já adulto .”Apesar de reservado e discreto, Tio Rubem era muito “mulherengo”, revela rindo.
Rubem Braga era introspectivo. Apesar de sempre bem-humorado, a timidez o fazia passar por antipático entre muitos que não o conheciam. Sempre gostou mais de observar do que falar. Expressava-se com mais desenvoltura e intimidade “escondendo-se” atrás de seus textos. Começou cedo a usar o “papel”para externar toda a percepção do mundo que observava à sua volta.
“Nossa casa era bem bonita, com varanda, caramanchão e o jardim grande ladeando a rua. Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda...”
Rubem Braga na crônica “ Os trovões de antigamente”.
O passado interiorano de Rubem Braga foi relatado em sua obra de forma sempre poética e nostálgica, reforçando a constatação inicial de D. Gracinha a respeito da importância desta época na vida do irmão - não só refletida em seu estilo, como também marcante na formação da personalidade simples e humanitária do autor.
Descendente de uma família de intelectuais e políticos – seu pai foi o primeiro prefeito de Cachoeiro de Itapemirim- os Braga sempre cultivaram a união familiar e a importância do enriquecimento cultural. Apesar da tradicional erudição, mantinham uma postura simples e discreta.
“Meu irmão gostava muito de conviver com a família”. D. Gracinha cita também o talento do primogênito, o poeta Newton Braga. “ O Rubem sempre gostou de ler o que ele escrevia.” Os passeios de carro com a irmã (e madrinha) Carmosina –a primeira mulher que dirigiu um carro em Cachoeiro- eram motivo de orgulho e prazer. Braga adorava passear pelas ruas da cidade e não se cansava de admirar a mesma paisagem.
A fama de “turrão” foi confirmada pela irmã:“O Rubem sempre teve uma personalidade muito forte. Quando colocava alguma idéia na cabeça, ninguém conseguia tirar”. Relembrando os tempos de colégio, D. Gracinha revela que Rubem não gostava de estudar. Tinha especial “horror” à matemática. Na época do ginásio, com dificuldades na matéria, foi chamado de “burro” pelo severo professor. Sentindo-se revoltado e humilhado, Rubem decidiu que nunca mais voltaria àquele colégio. Contando com a compreensão e apoio do pai, mudou-se de Cachoeiro aos 15 anos. Foi para a casa de parentes, em Niterói, onde concluiu o ginásio.Nesta época, passava todas as férias e feriados junto à família, na casa de praia que mantinham em Marataízes, no balneário capixaba . Anos mais tarde, concluiu a faculdade de Direito, atividade nunca exercida. O jornalismo já fazia parte de sua vida diária, servindo, de modo inconsciente, como um “elo de ligação” com suas raízes.
Segundo trecho de uma carta de Carlos Drummond de Andrade, escrita em 1963, “a clareza de Rubem Braga diante da vida em si é impressionante.O dom de sentir, valorizar e distribuir a natureza como um bem de que andamos todos cada vez mais precisados – eis a lição de Braga : lição de insaciável liberdade e gosto de viver...”
Considerado por muitos como “herdeiro” do estilo humilde de Manuel Bandeira, Braga costumava tirar poesia das “insignificâncias” do cotidiano. Ao falar dos acontecimentos de sua infância em Cachoeiro, podemos perceber com nitidez a melancolia lírica de quem não consegue restaurar os valores éticos que parecem ter ficado perdidos em “algum lugar do passado”....
“....É extraordinário que eu esteja aqui, nesta casa, nesta janela, e ao mesmo tempo é completamente natural e parece que toda a minha vida fora daqui foi apenas uma excursão confusa e longa; moro aqui. Na verdade onde posso morar senão em minha casa?...
Rubem Braga na crônica “ Em Cachoeiro”-fevereiro 1947
Com o dom da escrita percebido desde cedo pelos irmãos mais velhos, Rubem Braga passou a ter suas crônicas publicadas regularmente no jornal da família - “Correio do Sul”- desde os 15 anos. A partir daí só parou de escrever aos 77 anos, quando morreu de câncer, no Rio, no dia 17 de dezembro de 1990, deixando um único filho, Roberto, e 4 netos.
Caso único de autor consagrado que entrou para a história literária brasileira exclusivamente através de suas crônicas, o capixaba Rubem Braga não conferiu apenas nobreza a este gênero literário. Nascido no dia 12 de janeiro de 1913 em Cachoeiro de Itapemirim, o escritor é motivo de orgulho ímpar na cidade. Numa espécie de homenagem ao “filho ilustre”, na logomarca do município consta uma pena de caneta- tinteiro, simbolizando a cultura literária local – que tem na figura de Rubem Braga seu expoente máximo.
O dia 29 de junho tem um significado especial para a família Braga (e para os cachoeirenses em geral). Como primeiro prefeito da cidade o patriarca, Francisco Braga, tornou São Pedro o santo Padroeiro de Cachoeiro de Itapemirim. O dia de São Pedro passou a ser também o dia da Cidade. Trata-se, portanto, de um feriado municipal, onde os festejos cívicos e religiosos vêm se encarregando de eternizar o inestimável legado cultural de Rubem Braga na memória de seus orgulhosos conterrâneos...
“Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe diser em voz baixa:“Eu sou lá de Cachoeiro...”
(Rubem Braga)
JOÃO MORAES E A PATULÉIA
João Moraes é capixaba de Cachoeiro de Itapemirim e em 99, montou a banda João Moraes e a Patuléia junto com o guitarrista Aroldo Sampaio, o baterista Geovanni Donato e o baixista Doug, todos de Cachoeiro (este último foi substituído por Rogério Lopes, que tocou com Tim Maia por três anos). O conjunto é influenciado pelas canções psicodélicas de Sérgio Sampaio e também pela fase soul de Roberto Carlos (ambos de Cachoeiro do Itapemirim) entre o final dos anos 60 e fim dos 70, além de Mutantes, Led Zeppelin, Hendrix e Jards Macalé. Há ainda uma admiração por Rubem Braga cujas crônicas são freqüentemente citadas nas apresentações ao vivo da banda.
O som que a Patuléia produziu não pode ser encaixado em nenhuma vertente comum do pop-funk-rock, pois existem elementos carregados de características do rock dos anos 60 e 70. Suas letras misturam romantismo e ironia.Selecionada pelo quadro o Novo Som Brasil, que era apresentado pelo Jornal Hoje, provocou boas críticas nos jornais cariocas no ano de 2001, merecendo a atenção de grandes gravadoras. O trabalho da banda foi apoiado pela Lei Rubem Braga, que bancou inclusive o clipe dos rapazes de Cachoeiro.
O som que a Patuléia produziu não pode ser encaixado em nenhuma vertente comum do pop-funk-rock, pois existem elementos carregados de características do rock dos anos 60 e 70. Suas letras misturam romantismo e ironia.Selecionada pelo quadro o Novo Som Brasil, que era apresentado pelo Jornal Hoje, provocou boas críticas nos jornais cariocas no ano de 2001, merecendo a atenção de grandes gravadoras. O trabalho da banda foi apoiado pela Lei Rubem Braga, que bancou inclusive o clipe dos rapazes de Cachoeiro.
João Moraes e a Patuléia - Quase ao Vivo (2003)
Faixas:
1 – Som pra Deus
2 – Esbugalhados olhos
3 – Sem você...
4 – Medo
5 – Trem batido para a piedade
6 – Balance
7 – Lá fora
8 – Serenata inversa
9 – Tudo quimera
10 – Você vem
11 – Preguiça
12 – G & D
13 – Leros, leros e boleros
14 – Reticências
João Moraes é diretor e roteirista do documentário ganhador do DOCTV 2004, “Viagem Capixaba, um Olhar de Rubem Braga e Carybé, Hoje”, exibido na série “Brasil Imaginário” em todas as emissoras públicas de televisão do Brasil.
Atuou, produziu e editou o videoclipe “Medo” da banda João Moraes e a Patuléia, com participação do Humorista Bussunda. O clipe foi exibido em várias Tvs e participou da mostra competitiva do festival de São Carlos, SP. Atualmente mora em Vitória e dirige o documentário de média metragem “Pedras no Caminho do Homem”, o curta de animação “Ai de Ti!”, (Único projeto capixaba premiado pelo edital do Programa Petrobrás Cultural em 2005), o especial “Caminho das Águas” sobre os rios capixabas, para a TVE-ES e ainda o curta “O Evangelho Segundo Seu João”, co-dirigido por Eduardo Souza Lima(Rio de Jano, Caçada Implacável). É jornalista (UFRJ), músico, produtor cultural, diretor de audiovisual e roteirista. Criador de projetos como o Museu Digital, Poesia Viva, Brincarock, Feira Multicultural, Oficina do Quadrinho e participou da produção do CD Balaio do Sampaio. Diretor de jornalismo na rádio Aquidabã, apresentou os programas “Trem das 11” e “Alívio Imediato”. Lançou e dirigiu as revistas “Anúncio” e “Documento” e o jornal “O Repórter”, foi editor do jornal literário “Vertigem” e colunista da “Folha do Espírito Santo” e “Diário Capixaba”. Pesquisador de folclore e música brasileira, dirigiu por quatro anos o departamento municipal de Cultura de Cachoeiro de Itapemirim, ES.
João Moraes é diretor e roteirista do documentário ganhador do DOCTV 2004, “Viagem Capixaba, um Olhar de Rubem Braga e Carybé, Hoje”, exibido na série “Brasil Imaginário” em todas as emissoras públicas de televisão do Brasil.
Atuou, produziu e editou o videoclipe “Medo” da banda João Moraes e a Patuléia, com participação do Humorista Bussunda. O clipe foi exibido em várias Tvs e participou da mostra competitiva do festival de São Carlos, SP. Atualmente mora em Vitória e dirige o documentário de média metragem “Pedras no Caminho do Homem”, o curta de animação “Ai de Ti!”, (Único projeto capixaba premiado pelo edital do Programa Petrobrás Cultural em 2005), o especial “Caminho das Águas” sobre os rios capixabas, para a TVE-ES e ainda o curta “O Evangelho Segundo Seu João”, co-dirigido por Eduardo Souza Lima(Rio de Jano, Caçada Implacável). É jornalista (UFRJ), músico, produtor cultural, diretor de audiovisual e roteirista. Criador de projetos como o Museu Digital, Poesia Viva, Brincarock, Feira Multicultural, Oficina do Quadrinho e participou da produção do CD Balaio do Sampaio. Diretor de jornalismo na rádio Aquidabã, apresentou os programas “Trem das 11” e “Alívio Imediato”. Lançou e dirigiu as revistas “Anúncio” e “Documento” e o jornal “O Repórter”, foi editor do jornal literário “Vertigem” e colunista da “Folha do Espírito Santo” e “Diário Capixaba”. Pesquisador de folclore e música brasileira, dirigiu por quatro anos o departamento municipal de Cultura de Cachoeiro de Itapemirim, ES.
VÍDEO-CLIPE DA MÚSICA “MEDO”:
Cachoeiro de Itapemirim: revelamos a capital secreta do mundo
A prosperidade de Cachoeiro tem origem em fatores geográficos. O município se desenvolveu no último ponto navegável do Rio Itapemirim
No próximo domingo, Roberto Carlos festeja seus 68 anos com uma apresentação na cidade onde nasceu. É o fim de um hiato de 14 anos. Para comemorar, um relógio foi inaugurado na Praça Jerônimo Monteiro, no Centro de Cachoeiro de Itapemirim. Ele marca a contagem regressiva para o show. Essa movimentação acaba por trazer à tona os folclores que cercam a cidade do Sul do Estado, conhecida por um título que deixa claro a mania de grandeza do cidadão de cachoeiro: "Capital Secreta do Mundo".A história mais coerente sobre a origem dessa expressão remete a Vinícius de Moraes. O poeta teria ironizado a cidade do amigo Rubem Braga, durante um encontro no Rio. Resultado, o apelido virou troféu e foi espalhado aos quatro cantos pelo escritor em suas crônicas. Outra versão, muito conhecida na cidade, atribui o batismo ao próprio Rubem.
Cachoeirismo
De uma forma ou de outra, o fato é que os cachoeirenses chamam seus trejeitos locais de "cachoerismo". Os não cachoeirenses - ou não privilegiados, como eles costumam dizer - preferem outro termo: bairrismo. "Religiões" à parte, hoje há um mito cultural, que é tão importante quanto a cidade que o inspirou.
A grandiosidade da cidade pode até ter sido inventada por seus munícipes, mas isso não lhe tira os méritos. No máximo muda-os de lugar. O valor não está na cidade, mas na maneira com que seus filhos olham para ela. Por lá, não há praia para inspirar violões, o rio Itapemirim é barrento e os morros encurtam o horizonte. Além disso, faz calor, muito calor... Mas nada disso é problema.Rubem Braga pintou a cidade de crônica e esse é um bem difícil de ser desfeito. Brincou com o que tinha, é verdade: quem não tem mar fala do rio, de árvores que moram em janela, do velho relógio de parede que hoje está parado no último quarto da Casa dos Braga... Na verdade, ele nunca foi um relógio pontual. Na temporada que passou em Ipanema - na cobertura do cronista - foi até motivo de "cachoeirismos".
- Rubem, seu relógio está atrasado, diziam os amigos
- Não. É que ele marca a hora de Cachoeiro, respondia o escritor, dando ainda mais vazão as tradições locais que começaram oficialmente no dia 11 de março de 1939.
Dia de Cachoeiro
Na verdade, a ideia partiu de Newton Braga. Foi ele quem transformou em ícone local o costume comum de auto-elogios das cidades interioranas. O irmão de Rubem publicou um pequeno texto em um pequeno jornal promocional da Papelaria L. Machado. "Existem poucas cidades no Brasil de um cabotinismo tão bom quanto como o de Cachoeiro. Você esbarra com um cachoeirense fora daqui, o bicho é só saudade", escreveu. Não é para menos que Newton Braga foi o inventor do "Dia de Cachoeiro", que teve sua primeira festa comemorativa em junho de 39. A escolha da data foi coisa pensada. Não se poderia comemorar nada no dia da criação da comarca - o final de março geralmente coincide com o carnaval, além disso é um mês quente para os ternos e vestidos que a ocasião pediria ao longo do tempo. Sobrou para São Pedro. Foi assim que o padroeiro começou a dividir seu 29 de junho com a cidade. A Catedral Metropolitana vive um privilégio semelhante. A igreja divide muros com o "Caçadores Carnavalesco Clube" onde, desde 1941, acontece o Baile Oficial da Festa de Cachoeiro.
Os ausentes
No baile, todos os anos, dois conterrâneos são homenageados. Os costumes que cercam os títulos são o reconhecimento da cidade de que muito de sua notoriedade se deve a quem a deixou. "O ?Cachoeirense Ausente? da noite geralmente é mais badalado que o 'Cachoeirense Presente'. Realmente. Mas há um motivo: não estando em Cachoeiro ele promove a cidade", explica Regina Grafanassi, que participa da organização da festa há 21 anos.
Roberto Carlos foi o "Ausente" de 1969. Pouco antes de subir ao palco - de blusa aberta e medalha no pescoço - para receber a honraria, bateu um papo com um rapaz na secretaria do Clube que lhe servia de camarim improvisado. Raul Sampaio foi falar de uma música sua chamada "Meu Pequeno Cachoeiro". Os dois combinaram um encontro no Canecão (famosa casa de shows carioca) dali duas semanas. Raul levou uma fita. Entregou pessoalmente ao rei. Marcaram no estúdio. Na primeiro encontro, Roberto havia perdido o tape, mas Raul tinha um de reserva. Roberto gravou, mas não gostou do arranjo. Mexeu-se no arranjo. Passada mais uma semana, um diretor implicou com um verso. Raul mudou. "Meu bom jenipapeiro" virou "meu flamboiã da primavera".
"Era o jenipapeiro que eu conhecia do pátio da minha escola, o Liceu. Doeu pra tirar. Eles disseram que jenipapo ninguém conhecida. Mudei, mas antes de ir para o estúdio passei num fruteiro da Praça Mauá e pedi uns jenipapos. Comprei três e levei para CBS. Botei em cima da mesa. Roberto pegou e falou assim: ?É jenipapo bicho!?. Mesmo assim tive que mudar", lembra Raul. A faixa foi gravada no disco lançado pelo cantor em dezembro daquele mesmo 1969. Nessa época, "Meu Pequeno Cachoeiro" já era o hino oficial da cidade e carro-chefe das fanfarras que invadiam o Baile de Gala, avisando o fim da festa e a chegada da manhã.
Raul (Sampaio) é primo de Sérgio (Sampaio) que gravou um disco com outro Raul, o Seixas. Os dois entraram no estúdio em 1971. Um ano depois Sérgio alcançou o sucesso com a marcha rancho "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua". Teve uma carreira inconstante e problemas com bebida. Morreu em maio 1994, vítima de uma crise aguda de pancreatite, sem realizar seu sonho mais cachoeirense: ter uma música sua gravada por Roberto Carlos. Acabou por preencher uma peça essencial na composição desse folclore da cidade: a cadeira de poeta marginal.
Tradição e futuro
Os cachoeirenses precisam concretizar suas memórias. Num lugar onde a tradição está mais nas pessoas que nos lugares e coisas, o município espera por novos ilustres. O Baile de Gala aguarda novas gerações que não conheceram a cidade em seu tempo de viço. O empresariado local ainda não sabe ser mecena. A cidade da cultura continua sem uma Casa de Cultura. O corpo musical que a cidade viu surgir na metade do século passado teve um lugar para começar: a Rádio Cachoeiro. Sérgio Sampaio e Jesse Valadão eram locutores, Roberto Carlos subia num banco para cantar os sucessos de Bob Nelson. Hoje, onde ecoam as novas vozes?Sim, Cachoeiro pode se orgulhar do seu passado glorioso, mas, no presente, precisa redescobrir seu valor. Não só oralmente, mas em ações. No caso, conservar tradições e não estagnar. Nas últimas eleições, a cidade quebrou um continuísmo político de décadas. Acima do bom ou ruim, votou-se no diferente. "Passamos um bom tempo sem muita coisa, mas agora a cidade parece iniciar um processo de retomada. Mesmo assim, ainda falta muito. Pena que se você não carregar Cachoeiro para fora de Cachoeiro ele não funciona", afirma o produtor cultural cachoeirense João Moraes.
Eles sempre cantaram de galo
Ainda no tempo que briga de galo era uma atividade lícita, Cachoeiro inaugurou sua arena pelas mãos do próprio prefeito de então, Brício Mesquita. Assim, no dia 5 de setembro de 1934, os cachoeirenses passaram, literalmente, a cantar de galo. E o nome do novo espaço de lazer não poderia ser menos modesto: "Rinha da Glória." Neste dia, foram 13 horas ininterruptas de esporadas e gritos. Cachoeiro conseguiu três vitórias, um empate e nenhuma derrota. O cachoeirense "Manda Chuva" venceu o galinácio da capital, o único entre os competidores que sequer teve o nome registrado.
No começo do século XX, essa competição entre Cachoeiro e Vitória ultrapassava os poleiros e era desigual - a favor de Cachoeiro. A cidade era, na verdade, o centro econômico e demográfico do Estado. A oligarquia local queria controlar as cordas da política. Além disso, rumores de que a capital estava no lugar errado ganhavam fôlego com cada nova precocidade dos cachoeirenses. Para eles, o Palácio deveria estar mais próximo do café que o sustentava.A prosperidade de Cachoeiro tem origem em fatores geográficos. O município se desenvolveu no último ponto navegável do Rio Itapemirim. É fruto da expansão da produção de café do Norte do Rio de Janeiro, que chega ao Sul do Espírito Santo no final do século XX. Era o centro escoador de toda produção do Vale do Itapemirim. Ou seja, as sacas não paravam de chegar, e partir. O café ia para o Rio de Janeiro, e acabou trazendo justamente o Rio de Janeiro. A proximidade com a Capital da República acabou por deixar Cachoeiro e os cachoeirenses ainda mais vaidosos.
Aliás, a estrada de ferro que ligou a cidade ao Rio, em 1903, só chegou a Vitória sete anos mais tarde. No mesmo ano, Cachoeiro foi o terceiro município do Brasil a inaugurar sua iluminação elétrica. Além da energia e da locomotiva, símbolos da modernidade, também chegaram primeiro na cidade as ideias republicanas. Já a primazia no movimento abolicionista, não. O motivo: as vésperas abolição, quase setenta por cento de escravos do Espírito Santo estava nas plantações do Vale do Itapemirim. A Lei Áurea, além de não prever indenizações para os coronéis, foi assinada no mês de maio, período que marca o início da colheita. Jornais da época, como "O Cachoeirano", noticiam perdas de até dois terços da lavoura. Claro que isso engrossou o apoio da cidade ao movimento republicano. Em 1888, Cachoeiro sedia o primeiro Congresso Republicano do Estado Espírito Santo. Em novembro do ano seguinte, a monarquia cai.
A eleição de Jerônimo de Souza Monteiro para Presidente do Estado acontece em 1908. O lugar na política Estadual é mantido até o final dos anos 1930. Tudo isso vai por água abaixo com a crise de 1929 e a Revolução de 1930, que coloca Vargas no poder e seus inimigos fora da máquina pública. Os programas de erradicação dos cafezais dos governos Lacerda de Aguiar acaba por minar ainda mais a cultura do café no Sul do Estado. O orgulho de Cachoeiro sempre foi mais falado do que explicado. Seus fundamentos estão nos livros e discos de seus filhos ilustres, mas o folclore também deixou suas pistas na história.
Sempre é tempo de preservar
Fábio Coelho é um homem de planos. Não enxerga um relógio parado, na recepção da Fábrica de Pios Maurílio Coelho. Vê apenas uma relíquia, uma herança de família a ser conservada. O mesmo vale para fabriqueta que seu avô fundou em 1903. Ele quer tocar a tradição para frente, erguer paredes novas, cobrir fios desencapados, fazer um museu, um bar, um estúdio... Até hoje o lugar é o único da América Latina especializado no ramo. Caixas de madeira levam o nome de Cachoeiro e a voz de mais de 30 pássaros brasileiros. "Divulgamos a cidade a mais de 100 anos. A Fábrica tem que reencontrar a cada troca de geração. Continuamos pela tradição".
O ar de lá é mais puro
O bairrismo da cidade acabou ganhando algumas brincadeiras. Prova disso é este brinde distribuído por uma empresa da cidade: ar puro e enlatado de Cachoeiro.
Diz a embalagem:
"O ar...
Primeiro Deus moldou o homem em barro. Mas quando quis dar-lhe vida soprou nas narinas. Era o espírito. E o boneco de barro tornou-se um Homem. E assim foi com Eva e todas as criaturas. O ar...Somos vasos de barro. O que importa é o ar...Nas pessoas. Nos lugares.
Cada região tem um tipo de ar. Cachoeiro de Itapemirim tem um ar diferente. Quem nasceu ou viveu aqui, sabe disso. Eu não sei se emana das águas do rio Itapemirim que corta a cidade cantando. Ou se é o calor do Itabira que iluminado pelo sol, envia seus raios de luz para a cidade. E tudo isso misturado às pessoas, dá o ar de Cachoeiro. É, deve ser...
Por isso, quem sai de Cachoeiro leva esse "ar" às outras pessoas. E, quem fica, mantém esse "ar" em ebulição transformando-o numa chama ardente e no orgulho de dizer: "Modéstia à parte, eu sou de Cachoeiro de Itapemirim!" (Ariette Moulin Costa)".
Sede de elogios
Não é só o ar, mas também a água de Cachoeiro é diferente - melhor. Os conterrâneos que tiverem sede podem matá-la junto à saudade. O ego, pelo menos, vai estar hidratado.
Autor:
Fábio Botacin - A Gazeta
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